Profissão é escolha ou descoberta?

Publicado em Andei Pensando..., Educação, Cotidiano e Psicologia.


Profissão é escolha ou descoberta?

E então chega aquele momento em que as únicas perguntas que se ouve são: - Que curso você vai fazer? - Você já escolheu tua faculdade?

Para muitos jovens essas indagações se assemelham a um revólver prestes a disparar em suas cabeças e assim, eles que há pouco tempo eram exageradamente poupados de pequenas escolhas, vendo seus pais assumirem a frente das mesmas, passam a viver com a sensação de que a grande decisão de suas vidas tem dia e hora para ser tomadas e o pior é que é já.

Com exceção de uma minoria que por experiência própria de convívio com o trabalho, convivência intima com atividades de membros da família ou outros conhecidos, empatia com pesquisa anteriormente realizada e até mesmo “pressão hierárquica”, a maior parte dos estudantes de ensino médio e cursos pré-vestibulares, especialmente por receio de errar e se sentirem culpados acabam postergando a necessária experiência de se descobrirem dentro de um mercado que, apesar de recheado de possibilidades, apresenta-se extremamente instável diante de variações tecnológicas, econômicas ou mesmo novas necessidades sociais.

Nesse momento, tanto aqueles familiares que buscam exercer uma “influência objetiva” quanto os adeptos da “não pressão”, na maioria das vezes tendem a gerar mais incertezas e ansiedade. O que temos de verdade é que por um lado, anualmente continuam a surgir novos cursos com mais campos de conhecimento agregado (todos solicitando habilidades tecnológicas e de relacionamento social) enquanto, por outro, as instituições de ensino são obrigadas a trabalhar quase que exclusivamente os conteúdos tradicionais exigidos nos vestibulares, em um ambiente de competição, que muitas vezes inviabiliza as experiências de grupo, solicitadas no primeiro aspecto.

Diante desse fato, que em muito rouba o tempo e o interesse em buscar conhecer o mundo real das diferentes profissões, é comum estudantes que realizam suas escolhas profissionais baseados simplesmente em seus conhecimentos ou acomodações acadêmicas, como a escolha de uma área de engenharia pela facilidade com as matérias de exatas, desconhecendo a função de gestor que a cada dia é mais exigida desses profissionais.

Se em um passado próximo a boa formação universitária era suficiente para definir os rumos da vida de um profissional, hoje observamos que os cursos de graduação passaram a ser apenas o passo inicial de uma carreira que precisará ser lapidada constantemente, de acordo com as alterações solicitadas pela sociedade, os interesses de cada profissional e da própria flutuação do mercado.

Se é que houve, foi-se o tempo em que gostar de animais ou ajudar pessoas seriam o pré-requisitos para a opção por veterinária ou psicologia. A escolha de uma carreira profissional não pode se ater simplesmente a peculiaridades da grade curricular desse ou daquele curso, mas sim ás características solicitadas pela prática de cada profissão e por essa razão, uma visita a profissionais, preferencialmente em seus ambientes de trabalho pode ser estimulante tanto para o sim quanto para o não, diante dessa tomada de decisão.

Um detalhe fundamental nessa busca pela empatia com um caminho pessoal e profissional é que esse contato não deve ser com qualquer profissional, por mais competente e reconhecido que seja, mas com pessoas que realmente vislumbram suas carreiras como ferramentas de crescimento e satisfação mesmo diante de situações adversas.

Profissionais além do óbvio. Quando o italiano Domenico De Masi afirmou que no século XXI não existiria profissão do futuro e sim profissionais do futuro, nos alertava da necessidade de se observar as profissões em seus aspectos mais dinâmicos, não havendo espaço para acomodações do tipo “por ter me formado em determinada universidade terei portas mais abertas”.

Com o conhecimento do meio em que se pretende estabelecer uma carreira acrescido de cultura geral, networking e comprometimento, passamos a ter um quadro bastante satisfatório no caminho para o sucesso pessoal desse jovem disposto a conectar-se com a realidade. Descobrir-se capaz e satisfeito em tempos de tanta instabilidade pessoal e social é sem dúvida um excelente meio de estar interferindo de forma positiva no meio em que vivemos.

A questão nunca esteve em escolher uma profissão, mas em se descobrir nas competências aliadas a aquela determinada carreira.

Como disse o Telê Santana, “é impossível atingir a perfeição, mas é possível aproximar-se dela."



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